“Eu podia simplesmente jogar minhas lembranças num
lago, vendo meus sentimentos se distanciarem cada vez mais de mim
enquanto sucumbem entre as águas escuras e gélidas do meu interior
vazio. É assim que me sinto agora, eu pensei e parei. Eu vi alguém!
Linda, irresistível, parecia feliz, continuei andando mas era impossível
evitar, eu estava eufórico! Jamais tinha visto uma pessoa que parecesse
ser tão perfeita para mim, prossegui sabendo que nunca mais iria vê-la
até porque eu estava passando o feriado na casa de uns amigos e era meu
último dia ali. Fui cada vez mais me afastando e meus pensamentos o mais
perto ficavam da pessoa estranha, atraente, e que com certeza havia
mexido completamente comigo. Cheguei em casa mas estava atordoado, eu
necessitava de alguma forma voltar naquele lugar, decidi então que
precisava ao menos vê-la novamente, decifra-la novamente, me perder em
tua face angelical e misteriosa novamente, de longe eu a olhava cada vez
mais, me aproximava sorrateiramente, tentando ao menos não chamar
atenção. Estava linda, com sua forma doce observando o mar se virando
pra todos os lados, exceto o meu. Levantou, me olhando lentamente
enquanto sem reação desviava meu olhar que desde então não saia do seu
delirante corpo. Paralisei, isso não era normal, trocamos olhares
realmente intensos. Até que sorri, - como posso ser tão idiota? Eu não a
conheço, nunca tinha visto, é idiotice sorrir para uma pessoa assim sem
mais nem menos, eu pensei. Discretamente entre nossa troca de olhares
ela mordeu suavemente sua boca, seu rosto estava inclinado para outra
direção, mas seus olhos estagnados aos meus como se tivéssemos nos
comunicando de alguma forma, o que era confuso, porque eu a queria, a
desejava, se possível já teria ido até ela para dizer ao menos um oi,
mas para que? Estaria a beijando, amassando teu esculpido corpo e
sentindo o calor de sua pele na minha. Acorda! Foi somente um pensamento
momentâneo, daqueles que você pensa entre um acontecimento e outro.
Cheguei a me excitar. Ela não parava em lugar algum, de lá olhava alguns
óculos baratos de um vendedor ambulante na praia enquanto de cá me
segurava pra disfarçar minha tola indiscrição, não conseguia ser
discreto de forma alguma, até que me viro, me viro rapidamente pra ver
se conseguia perceber se me observava, nesse momento ela vinha em minha
direção, não a mim, mas passava por mim, dava para sentir seu leve
cheiro de maresia, eu realmente queria me entregar aquele corpo molhado,
suado, salgado. Meu coração palpitava mais ainda e não soube o que
fazer, permaneci olhando para o lado oposto em que ela passara até que
virei. Ela me observava intensamente e discretamente com olhos e dentes,
não sei se alguém percebeu, mas eu estava nervoso, agoniado. Meus
amigos estavam vindo comigo e eu realmente precisava voltar, eu não
poderia ficar parado ali de forma alguma, alguém mais cedo ou mais tarde
iria perceber, insisti no último olhar mais ela estava distraída com
algo, como se tivesse olhando pro nada, pensando em algo que com
certeza, em hipótese nenhuma seria eu. Me virei e disse: “Agora
cansei,vamos”. Estava tão aéreo e não percebi que havia passado por mim
outra vez, nem sequer percebi, nem sequer estava atento pra que pudesse
ter uma ultima troca de olhares, mas era tolice, pobre de mim, dei
alguns passos, olhei para trás, estava voltando e não me olhava,
continuei andando e mais pra frente me virei, nada, ela nem sequer olhou
pra trás, me afastava cada vez mais e me virava cada vez mais também,
porra, foi tão momentâneo, foi tão intenso, me virava a todo instante
até que a perdi de vista.”
— Versifiquei. (via blindar)
Versifiquei
Reviewed by
Marcelo Pigozzo
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13:42
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