As piadas perderam a graça, os amigos perderam a
importância, o mundo perdeu a cor, a vida perdeu o sentido. Não queria morrer,
não podia morrer, mas não aguentava mais… Escreveu um bilhete se despedindo de
todos que um dia se importaram com ela, chorou as suas últimas lágrimas, tomou
o último gole de café, fez seu último lamento à Deus. Tinha medo do
desconhecido, tinha medo da morte, mas não podia mais continuar aqui, não
valeria a pena continuar aqui.
Ela não tinha medo da morte, mas não desejava morrer.
Ainda
que esse mundo fosse o inferno, ela o conhecia, enquanto o que a esperava
depois da morte era um incógnita, o desconhecido a assustava.
Sabia que não suportaria mais tanto peso, sabia que sua
mente estava sabotando os seus planos e sua vida social, mas sabia também que
estava fraca demais para levantar da cama e encarar mais um dia. Cansada de
colocar um sorriso no rosto para evitar perguntas e conselhos indesejáveis,
cansada de ir para a o trabalho e encarar mais um dia cansativo, cansada de
procurar uma alma gêmea que nunca existiu. Ela estava cansada de tudo, de
todos.
Pegou a 1911 que era do seu pai e puxou o gatilho. Ela se
foi. Sobrou apenas aquele maldito bilhete que terminava com uma palavra:
“perdoe-me”. Perdoá-la? Como irei fazer isso? Ela se foi… Não permitiu que a
salvasse, não queria ser salva. Agora elá está por aí, habitando no
desconhecido e eu, bem, torço para que o desconhecido a traga paz que ela
merece.
Esse foi o fim da garota do apartamento 312, com olhos
castanhos como mel, com a pele morena e o sorriso triste. Esse foi o fim do
amor da minha vida.
— Essa não é uma história triste. Dan Saltzman.
Essa não é uma história triste
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Marcelo Pigozzo
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