Minha vida (quase) social

Texto que vi em um dos blogs que sigo e achei muito real, nos dias de hoje estamos assim, mesmo que inconscientemente , vale a pena dar uma lida e refletir um pouco


Olá, eu me chamo Lucas. Lucas Ferreira. /lucasferreira. @lucasf. Tenho 20 anos, 566 amigos, 329 seguidores e 2 anos de terapia. Todos os dias eu checo meus e-mails. A maioria são recados da faculdade, propagandas de livros acadêmicos, confirmações de compras e cadastros em sites de delivery online. Sabe, morro de vergonha de pedir comida por telefone. Eu curso o quinto semestre de Publicidade e Propaganda numa particular famosa da cidade. Moro com meus pais, uma irmãzinha e dois cachorros pequenos. Quem sou eu? Bom, eu sou o Lucas. O que eu estou fazendo? Agora, nada. O que eu estou pensando? Estou pensando na solidão, na verdade. É, estranho… Tem 95 pessoas conectadas no bate-papo. Opa, 94. Eu só não tenho vontade de falar com nenhuma delas. Eu poderia até falar com a Samanta, sabe, a minha vizinha gata que faz três cadeiras comigo, marcar de pegar um cinema, ou coisa assim. Mas roubaram o celular dela… Faz dias que eu não vejo a Samanta. Cara, eu queria mesmo assistir alguma coisa. Meu último check-in no cinema foi… acho que no mês passado. Eu não lembro muito bem do filme. Só lembro que foi um porre porque eu fiquei o tempo todo mexendo no celular. Acho que eu fui com o Joaquim, aquele filho da mãe sumido. Caramba, foi só eu falar que o Joaquim apareceu aqui perguntando se tá tudo bem comigo. Tá tudo bem. Não, não… Muito formal. Tá tudo bem sim, cara. :D Agora melhorou. Joaquim é meu melhor amigo. A gente cresceu junto, na verdade, e viemos do interior pra estudar aqui na capital. Joaquim ainda visita aquele fim de mundo de vez em quando, porque a família dele ainda tá por lá, resolveram não se mudar. É engraçado, até, porque minha casa tem dois andares e eu mal vejo a minha mãe. É como se eu morasse sozinho… É como se eu vivesse sozinho. Eu só subo pra comer, e quando eu subo, eu só vejo as coxas da mamãe estiradas na cama. Não consigo enxergar o rosto dela, porque tem um notebook enorme tapando a minha visão. Eu que comprei esse troço, faz uns dois anos, de presente do dia das mães. Eu subi, dei um beijo na testa dela, tiramos uma selfie, postei no facebook junto com um textinho que eu vi na internet e ganhei umas quarenta e poucas curtidas. Aí voltei pro meu quarto, porque eu tinha que acordar cedo no outro dia… O meu despertador nem sempre funciona e eu acabo perdendo aulas importantes. Quer dizer, eu acho que são importantes. Vou me reunir com a galera. Povo chato… Em pleno sábado. Quase um feriado. Eu podendo ficar no meu quarto, assistindo televisão ou atualizando o twitter, não. Virgem maria… 50 mensagens no whatsapp. E eu só fui esquentar o meu jantar. Esse povo não tem vida, não? Bom, eu fiquei responsável pela conclusão do relatório. Relatório de que mesmo, hein? Eu até anotei na minha check list, mas que droga… Ah! Lembrei. É um trabalhinho besta sobre marketing de internet. É bom eu começar a fazer logo… Vou escrever assim que eu der uma olhada no meu feed. Algumas páginas de humor, atualizações de status de namoro… Gente que eu não queria que fosse feliz, sendo mais feliz do que eu. Mas que inferno! Todo mundo foi na última balada do fim de semana, altas fotos, altas gatas… Só de pensar que no último fim de semana eu fui à praia com a minha família porque era aniversário do meu pai dá uma vontade de me deprimir. “À praia” tá certo ter crase? Deixa eu ver… abrir google… digite sua pesquisa… hum… Estou com sorte? Hahaha, desde que aquelas quinhentas mensagens dizendo que meu número foi sorteado, acho que sim, estou com sorte. Olha lá, Joaquim chamando de novo… Me marcou num vine. Velho, pra que eu vou querer ver vine uma hora dessas? Que coisa sem graça. Mas tá… Vou curtir por amizade. “kkkkkkkk :P” Pera. O Joaquim tá namorando? É sério mesmo? E esse desgraçado nem me avisa? Ah, Joaquim, eu te mato. “amor da minha vida”. Curti… Que meninazinha feia. E olha, Joaquim disse a mesma coisa pra aquela ruiva. Eu gostava daquela ruiva. Ela postava coisas legais sobre filosofia… Mas ele nem tava namorando com ela, acho. Pelo menos, se tava, não atualizou o status. Então é mesmo que nada, deve ter sido só uma ficada rápida. Cara, não to me sentindo bem. Tá dando uma pontada nas minhas costas de repente… Deixa eu ver. Abrir google… o que fazer quando sentimos dor… o que fazer… quando…. sentimos dor. Dor… Pesquisar. Mais de três milhões de resultados. E nenhuma resposta. Ah, é, o trabalho! Lucas, Lucas, Lucas… Qualquer hora, você reprova. Será que a professora respondeu meu e-mail? Vou checar a minha caixa de entrada. Olha lá! Tenho mensagem nova… Credo, do ano passado. Como é que eu não abri isso ainda? Se fosse importante… Ah, não. É só a minha tia desejando feliz aniversário. Eu não falo com ela desde que eu tinha, sei lá, uns dez, onze anos. Titia era um doce de pessoa. Sempre que era meu aniversário, fazia bolo de brigadeiro pra mim. No meu aniversário, recebi 89 mensagens na minha linha do tempo. E nenhuma ligação. Nenhuma visita. Nenhum parabéns pra você. Sabe, quando eu tinha cinco anos, fiz minha primeira festa de aniversário. Eu convidei 12 amigos da escola. Só quem apareceu foi o Joaquim. Eu me pergunto o que foi que mudou de lá pra cá… Mas Joaquim também me mandou um recado naquele dia. E só. Meu tablet tá acabando a bateria… Era só o que me faltava mesmo, o dia não pode ficar mais completo. Ah, quer saber? Dane-se o trabalho. Ctrl+c e tá resolvido. Meu celular tá vibrando… Nossa! Que gata! E me chamou pra conversar no aplicativo de paquera. E aí, você tem quantos anos? Tem namorado? Vamos sair? Você é linda *-* Não… Você é linda ><. Droga… Ficou offline antes de eu enviar. Tudo bem, espero ela entrar de novo. Enquanto isso, vou jogar um pouquinho. Cara, quando eu me formar, nunca vou aceitar fazer essas propagandas que aparecem do nada no meio do seu jogo e você acaba apertando sem querer. Isso é um saco! Um saco mesmo, tipo, muito. Mas onde é que eu vim parar? “Descubra quem de mais interessante está perto de você”. Ok. E quantas pessoas interessantes se interessariam por mim? Essa é a questão. Eu não consigo chamar a atenção nem da minha sala por cinco minutos. Ontem tive que apresentar um seminário, sabe, e todo mundo tava olhando pros seus respectivos smartphones, fofocando, namorando, conversando. Eu até me senti tranquilo, porque era menos gente olhando pra mim, mas aí eu parei pra pensar: e se todo o tempo que essas pessoas gastam deslizando os dedos pra cá e pra lá fosse gasto com alguma coisa de útil? Tipo, sei lá. Só uma ideia mesmo. Acho que teríamos novos Freuds e novos Da Vincis ou sei lá. Alguma coisa assim. Mensagem da mamãe… Bebê, vc vem comer? Hahaha, velho com acesso à tecnologia é osso. Não mãe, eu já comi. Eu passei uma meia hora fazendo o sanduíche e ela nem me viu. Tava mexendo no computador, na certa… Eu também não vi a mamãe, aliás. Será que ela tá em casa? Se não tiver, aproveito e ligo logo pro psicólogo dizendo que não vou poder me consultar amanhã. Na verdade, eu até posso, sabe. É que eu não quero mesmo. E nem a mamãe gosta que eu falte… É que é sempre o mesmo papo, entende. Não me ajuda em nada. Eu chego pro doutor e digo: Doutor, me sinto só. E ele diz: Como você pode arranjar amigos sem sair de casa? Eu penso: Doutor, eu to fora de casa agora. O senhor quer ser meu amigo? Não? Engraçado, o senhor aceitou meu pedido de amizade no facebook semana passada. Mas se eu chamar o senhor pra tomar umas, o senhor aceita? Claro que não. Mas eu fico calado, cara. Eu fico calado e quando ele dá bobeira, eu olho no meu Iphone se falta muito tempo pra acabar a consulta, porque eu só quero ir pra casa e entrar nas redes sociais. Na verdade, eu venho pensando muito mais do que em solidão. Umas 20 pessoas confirmaram presença na minha vida. Eu to esperando, tipo, até hoje. Mas ninguém chega de surpresa, sabe. Eu espero, cara, que alguém, algum dia, apareça pra mim sem alerta de mensagem, sem vibratório, sem toque, sem bip, e não poste em canto nenhum que esteve presente na minha existência, que é um evento finito… O mundo é silencioso, cara. E doí escutá-lo tanto, já que as pessoas não falam mais. O doutor é a única pessoa que olha dentro dos meus olhos. Por uma hora, contadinho. Aí depois eu tenho que pagar ele.

Créditos Cinzentos, Lucas Ferreira acaba de solicitar a sua vida de volta.  (via prolificar)


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Minha vida (quase) social Minha vida (quase) social Reviewed by Marcelo Pigozzo on 22:53 Rating: 5
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Um comentário :

  1. CONHECEREIS A VERDADE E ELA VOS LIBERTARÁ.JÓ 8,32. O UNICO LIVRO QUE VOCE NAO LEU FOI A BÍBLIA. LEIA E PRATIQUE.SEU UNICO AMIGO É DEUS.

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